Fui retirado da minha terra,
Preso num porão de navio.
Despejado num lugar desconhecido,
Com correntes nos pés.
Trabalhei debaixo de chicotadas,
Dezesseis horas por dia,
Sem intervalos ou pagamento,
Apenas com o direito de ficar calado.
Ajudei a construir essa nação,
Trouxe comigo, minha cultura.
Capoeira, música, gastronomia,
Religião, danças e costumes.
Como era diferente
Nunca fui reconhecido,
Sempre fui desprezado
E obrigado a ser inferior.
Me disseram que seria livre,
Mas só me deram
Trabalhos braçais e nenhuma educação,
Obrigado a morar nos morros e servir o patrão.
Nunca fui tratado como igual,
Sempre inferior
Nunca do bem,
Sempre do mal.
Meu cabelo é duro,
Minha pele escura,
Minhas mãos são calejadas,
Minha história não é contada.
Minha religião é considerada do capeta,
Minha música de baixa qualidade.
Não posso ser médico, nem advogado,
Apenas esportista ou favelado.
Se passo na rua descuidado,
Logo gritam: “Pega Ladrão”.
Mas queriam dizer:
“Mata o negão”.
Me deram 1 dia no ano para me representar,
Os outros 364 para me esquecer.
Eu só quero dizer: Eu existo brancaiada,
SOU NEGÃO, NÃO DEVO NADA PRA VOCÊ.